Apesar de ser o pior país em gestão pública, o setor privado continua mantendo a economia já que é bom em muitas áreas
O jornalista Carlos Alberto Sardenberg, âncora da Rede CBN, desenhou o cenário para o Brasil para os próximos quatro anos, com o governo Bolsonaro agora eleito, em sua palestra no Congresso Empresarial Paranaense, da Faciap, realizado em Foz nesta sexta e sábado.
Sardenberg resgatou os erros e as incompetências cometidas nos últimos anos na economia e na política para explicar como chegamos ao quadro de caos nos gastos públicos e como nos transformamos em um país que, segundo o Banco Mundial, possui uma das piores, senão a pior, política tributária do mundo.
“Havia um receio de que o processo de recuperação pelo qual passa o Brasil fosse prejudicado de alguma forma pelo processo eleitoral, mas isso não aconteceu”, disse ele. O que é positivo porque, com isso, o novo governo assume em condições um pouco melhores. Por outro lado, herda um cenário que Sardenberg classificou como insano ao analisar gastos públicos versus arrecadação.
Segundo ele, o setor público no Brasil está quebrado porque o Estado gasta hoje mais do que ganha. E a crise das contas públicas está se espalhando. “Vemos estados atrasando suas contas e prestando serviços cada vez piores à população, como é o caso do Rio de Janeiro”, afirmou.
Como chegamos neste ponto de falência? De acordo com o jornalista, a máquina pública não cabe no Brasil. “É um governo que não presta o serviço necessário, gasta muito e continua se endividando”. Paralelo a isso, faltam obras e investimentos.
Em sua palestra, Sardenberg mostrou dados assustadores. De tudo o que o governo gasta, 65% é destinado ao pagamento de aposentadorias e salários. Outros 15% se referem a despesas obrigatórias, como seguro-desemprego, Bolsa Família e benefícios para idosos que não têm renda. Sobram 20% que, em tese, o presidente da República poderia gastar como quisesse. Porém, a Constituição determina gastos fixados para educação e saúde. “O que quer dizer que, na verdade, o que o governo tem para investir é 10% de toda a arrecadação. O resto está carimbado”, disse o jornalista.
E as despesas obrigatórias e com previdência e pessoal sobem todos os anos acima da inflação. E a receita não cresce. Dos gastos com salários, as maiores despesas se referem ao Legislativo, ao Judiciário e ao Ministério Público. Todos os anos, o Congresso aprova aumentos salariais dos juízes, cujos ganhos balizam o salário de outros cargos. “A situação é de uma insanidade absurda”, lamentou Sardenberg.
Outro problema citado pelo jornalista para explicar como chegamos ao quadro atual de crise econômica e política é o que chamou de velha política. “Podemos viver o momento em que pagaremos o salário dos médicos e eles ficarão em casa porque não há estrutura para atender nos hospitais, nem remédios, nem instrumentos. Muito por causa da velha política”.
Tudo começou com o governo Lula que, no segundo mandato, implantou a chamada nova matriz econômica. Ela significava aumento de gastos em todas as esferas. Sem crescimento de receita, em 2014 o Brasil registrou pela primeira vez contas no vermelho, o que resultou no impeachment da presidente Dilma. “Mentiram que não havia déficit”, disse o jornalista.
Assim, com novas despesas, o déficit seguiu e o endividamento piorou. “Enquanto se fazia superávit primário, a dívida permanecia estável. Em situação de déficit, a dívida dispara”. Tanto é que a segunda maior despesa do governo passou a ser juros.
De acordo com Sardenberg, a agenda do governo Bolsonaro está correta. “Por exemplo, no que diz respeito à reforma da Previdência”, afirmou. A má noticia é que, com ela, as pessoas vão trabalhar mais tempo e na aposentadoria vão receber menos já que o fundo de financiamento da Previdência está diminuindo.
Da mesma forma, a reforma tributária que simplificaria um sistema que, hoje, cobra imposto sobre imposto. “É um dos piores sistemas tributários do mundo, segundo o Banco Mundial”, citou.
A venda de estatais também pode ajudar o governo a fazer caixa e reduzir o tamanho da dívida. Além disso, mais concessões podem ser feitas. Mas por causa da velha política, medidas como esta são constantemente atrasadas. “Porque a mentalidade é que o dinheiro público é do político, portanto deve servir interesses”, disse.
Considerando isso, Sardenberg acredita que a escolha de Sergio Moro para ocupar um ministério é positiva. “É como colocar a Lava Jato no coração do Brasil, que foi a operação que começou a desmontar o esquema da velha política”. Por isso, é importante que o novo presidente negocie com as bancadas e monte uma composição política sem voltar às regras antigas de governar.
Apesar do cenário complexo, ele encerrou com uma visão otimista para o futuro. “Há muitos setores em que o Brasil é muito bom e grande”, comemorou o jornalista. Somos os maiores exportadores de soja, carne, tabaco, álcool, alimentos, minério de ferro, somo o terceiro do mundo em usuário de internet e também ocupamos os primeiros lugares em número de linhas de celular. “O setor privado continua salvando o país. Por isso, olhe para a sua empresa, para o seu negócio, que conseguiremos sair na frente”, concluiu